Friday 11 February 2011

Ramalah 01.01.2011

Mantenho o mesmo conceito de entrega - seja mediante o problema político que se avizinha ou o mergulho secular na maleficência subtil do homem designado para matar -. Suponho que estas palavras não afectam o desenrolar dos processos, apenas desafectam o interior dos afectos do povo, construindo, lutando afincadamente pela construção do seu futuro imprevisível. Atiro uma pedra ao acaso e o silêncio atenua o rubor das vozes. Entregue aos tubarões sigo, com excesso de confiança, o caminho delicado das personificações políticas. E se tudo isto, esta farsa dos políticos, tivesse sido articulada, por todos os tubarões, mentes doentias sem retorno, ávidas e esfomeadas de poder? E se os grandes líderes fossem uma imensa farsa, encobertos subtilmente, pela capacidade de transformar a velocidade, com que os outros se capacitam dos passos, seguindo uma vontade imensa de vencer. Se a resistência fosse feita de processos vindouros, a imagem perene do sacrifício e da dor. Um covil de cães, uma ferocidade devastadora, uma entrega iluminada na escuridão. Que a solução nos ilumine e deixe viver os povos em paz, com os seus sonhos de liberdade, sem entrave, entre os enclave da existência e a sua resistência à adversidade. 

Jenin 31.12.2010

Aproximo-me de um homem. Olhar denso, calma de quem perdeu tudo. Não pertença. Assim são os terroristas. Como se o seu lugar fosse no topo da montanha, onde Deus, sentado, se esqueceu de observar os homens. Com seu passear tranquilo, vantajoso, o triunfo dos homens, horas à espera de morrer. A entrega à arte, faz-se com benevolência. Discurso disperso, tardes livres, ideologia sem política, desacreditar das mais valias, idênticas aos mestres desaparecidos. Esboço um sorriso, culmino nas palavras do céu. Uma revolução com armas de sentimento desconexo. A questão eterna do porquê. A perda interminável do amor infinito. Não há saudade. Não há sentimento, emerge a capacidade inaudível de amar de cor. Sem pressas apagam-se os rostos. As palavras, ditas perdem forças e este lugar já não existe. banido do mapa pelas forças invisíveis dos interesses, já ninguém sabe sobre quê, para quê, de quem. Mas continuamos aqui. Quase sem força, para continuar a acender o fogo, todas as noites, debaixo da oliveira centenária, que esta sempre foi terra de homens viajantes, de um Deus passante, de ninguém e de todos.

Jenin 31.12.2010

Cada imagem um fluxo inigualável de desgostos. A certeza de encarar uma mudança, todos entregues à revolta. A consciência é uma promessa de retorno ao não lugar. Aqui os dias passam rapidamente sem que se sintam resvalar as balas, amainar os gritos recrutar os soldados presentes ou escutar o porquê das guerras. Cada momento é uma tentativa de encontrar a paz, de fulminar os pensamentos com tiros certeiros ao pensamento, à reflexão dos dias passados a criar. Assim voltaremos a lutar pela mudança dos costumes, pela resistência dos inocentes. Caminho só, pelas ruas cinzentas deste não lugar, mas nas reconstruções pacientes de quem espera sem desesperar. Como se o medo tivesse sido banido das formas interessadas em combinar esforços de presença. Entrevistas aos lobos, conhecimentos de causa. Vidas entrelaçadas. Esquecimentos de identidade, ritos de passagem e esperança de um lugar. Entre os vocábulos da história reside um sentimento humano e um ressentimento político, como se a permanência fosse um dado adquirido e a familiaridade se apoderasse dos pequenos gestos do dia. Aqui testemunho. Aqui brincamos. E hoje brindamos à paz, pois o amanhã é incerto e depois ainda não existe.

Saturday 15 January 2011

Jenin 28.12.2010

Esta manhã calculei friamente os fragmentos desleixados de guerra. Entreguei uma bandeira de paz ao inimigo e reflecti sobre os conflitos internos do ser humano. A mentira, o ciúme, a ganância, o poder estridente dos malefícios. O exílio. Isto ou aquilo, as vozes silenciadas, o conforto e a certeza de luta para voltar a encontrar os caminhos seguros neste lamaçal político, incertezas, caminhos sem retorno. Consciência, não implica sapiência e o facto de não se figurar uma resposta, não significa, que lamentavelmente se dignifique a ignorância.  Entro no mundo desconhecido dos amantes o ciúme, sem romantismo, o poder da entrega a um religioso sapiente, uma vontade sobeja, um dogma, encontrado, vislumbrado, como resposta ignóbil e adquirindo, como fonte segura, dos olhares fugazes sobre o tempo. Nenhum humano é capaz sem tréguas. Todos se deixaram levar pela certeza de terem encontrado uma solução. Assim tão nada, uma pergunta se avizinha. O fragmento de uma guerra sem fim, o conflito interminável de ser, um lugar sem existir, uma viagem sem retorno, uma resistência para a existência. O não como resposta e todos os dias mais uma acção que se reflecte intransigente na dignificação do ser ao nosso lado.

Jericó 26.12.2010

No terraço solarengo dos dias longos, escrevo. Escrevo, pois mais nada além das palavras completam o sorriso dos excluídos. Deste lugar, restam as memórias de quem partiu, na esperança que se vençam as batalhas e de uma vez por todas, a guerra acabe. Deste lugar, as memórias do impossível, afagam os dias lentos e com o tempo seguram-se as bandeiras, gastando a paciência de quem espera. Gentes sem nome, numa terra deixada ao abandono, sem face, sem lugar, emprestando uma existência. Resta sonhar com um dia eterno de maldizer, solidário com o tempo. Assim estou, solidária com o povo palestino. Chorando suas lágrimas, abraçando, a sua terra, enraivecendo das injustiças e contemplando as maravilhas nossas, ao temporizar o queixume. Lenço branco enrolando o cabelo. Lágrimas rolando face a baixo. Sangue nas memórias e o tempo sem esperança, em prol das manhãs solarengas. Os dias que me restam, escrevo. Lentamente a voz presente nos meus dias os cânticos encantados de uma história ao amanhecer, a certeza de voltar e a ilusão de outro ser sem face. Ao ouvir os lamentos cantados dos dias carbonizados. Tenho pesadelos nas noites e o sono custa a chegar. Talvez este povo não tenha sonhos e o tempo seja uma lamentação, a demanda encaixotada, as escadas provisórias e uma existência assim atroz, sem muito levantar a voz de quem se conformou com a sorte. Os políticos sentam-se à mesa de quem enriqueceu com a corrupção, à volta do tempo que leva a chegar à terra.

Mar Morto 25.12.2010

Cada passo uma encruzilhada. A Palestina enche-se de discordancias elocuentes, óbvias e subtis. As famílias tentam manter-se unidas em campos provisórios, extensas manifestações do acaso e da paciência, da persistência e da revolta. Hoje um confronto de nações. Os alemães que expulsaram os judeus e se juntam aos palestino. Como compreender a inconstância dos ciclos da humanidade. Cada dia uma passagem leve sobre a consciencialização, a fugaz malícia dos dias compreendidos a voar sonhando. Uma luta interminável, dos seres suaves, dos cuidados. Saímos em viagens. Até ao mar morto. Não queria pagar o preço de uma praia roubada aos palestino, pois achei um insulto, além de defender que qualquer praia paga, é um insulto à humanidade. Saímos em busca de uma praia livre, somos parados num check point. Claro que não nos deixaram entrar. Mesmo assim fiz questão de dar a volta, além dos guardas. Estava-mos a entrar em Israel, com palestino. Procuramos o mar morto. O livre. Devia ser livre. Paisagem vasta para ser vista. Sonho terra santa. Deus habita as montanhas. A eternidade a subtil. A fusão eterna das montanhas, com o céu a perder de vista. Eterno. Sim. Aqui, para sempre, dizem todos! Nós também. Queremos continuar a lutar, pelo direito de existir.
Estou farta de homens com armas a dizer-me o que fazer. Que eu não posso passar, porque  tenho amigos palestinos. Que não podemos tomar um banho no mar morto, porque estamos com guias palestinos. Que não posso ir a Jerusalém,porque tenho um carro alugado, palestino. E mudo os planos, porque eu quero ficar com os palestinos. E o menino palestino vira-se para mim e diz: desculpe QUE SOU palestino!

Belém 24.12.2010

Na presença da diáspora, acende-se a luz e todo o universo se ilumina. Carros armadilhados, luzes de natal, olhares esgazeados, conflitos inimagináveis, complexos deleites de galaxias longínquas intrigados preâmbulos desconhecidos. Numa ambivalência soberana, acompanho serena a conjuntura drástica do voluntário perdido. Artistas asfixiados pela demora inigualável da chegada. Prevejo uma fusão risonha pacífica sem um positivismo obscuro e gasto. Cada vontade se esconde em nós apregoando o nascimento do menino, que não vejo. Caminhamos lentamente, passo a passo até falhar a luz.

Ramalah 18.12.2010

Entro nas paisagens maduras de oliveiras. Entrego o meu olhar aos socalcos de terra dura, avidez poética. Combinação de bombas, apraz lembrar a resolução pacífica dos malfeitores. Revejo-me pacífica nos malfeitores. Revejo-me paciente, esperando. O voltar da resolução, o sobejar deleitoso de um beijo, o árabe combinando nas paisagens, a miséria, a luta, a esperança e a reconstrução. Cada olhar uma esperança e já não há sofrimento, mas ilusão. Não há medo. Há revolta e perseguição confiscada aos princípios da memória. Um pedinte impede-me de sonhar, seu olhar é eterno retorno à realidade, à qual pretendemos virar as costas. Atiro-me sobre o abismo e não tenho onde me agarrar. Como o ciclone fictício, até ao fim do mundo. A ilusão de ser. A insistência de perseguir.

Wednesday 12 January 2011

Jenin 11.12.10

Os conflitos assemelham-se ao vapor consistente dos dias de Inverno. Os dias são mais intensos, do que outros mais vulgares. Lugares entrecortados. Há coisas que fazem mais sentido. Viajar, todos podem viajar. Apenas a entrada no estado de Israel é vedada aos Palestinianos. Todos ou quase todos são considerados terroristas. Vive-se com esperança e a certeza de que tudo isto é uma ilusão e em breve os caminhos, as linhas serão traçadas por outros. Tempo de pensar. O muro é outra questão perene. Quem será absorvido aquando a queda? Será possível vedar o conhecimento? Quais as mais vantagens de um posicionamento resistente mas falível? Estarão os palestinianos tão fragilizados que a sua resistencia deixou de fazer sentido? Qual a direcção a seguir? 

Monday 10 January 2011

Jenin 07.12.2010

Dissera-me sem avisar. Morreu. Tudo o que faço aqui deixou de importar e mergulhei na pura abstracção. As cordas rebentam sem deixar o mínimo vestígio de vida. Assim, minha tão nobre amiga me deixou. A uma certa idade os amigos deixam de escrever. Ainda lhe recordo as palavras. Palestina resume-se a uma volta pelo campo, uma casa bem arranjada, algumas palavras sobre ocupação e a vontade de olhar para dentro, como se aqui fosse essa vontade menos nobre. Recordo uma simples memória de nós, de noite um salto nobre entre os demais. Como se assim se deixasse romper um deleite e a vida fosse precisamente passageira, que nunca nos parecesse acabar ou continuar a correr. De ti minha afável companheira dos dias te dedico uma página inteira sabendo que nem só nestes lugares se guerreia a vida e o desgosto de perder cabe a cada um, a mesma surpresa dos dias apáticos, sem volta.
Profundamente me questiono sobre o dissabor da terra, os encantos da juventude, a realidade afortunada e o porquê das injustiças. Sofro em silêncio, neste lugar de mártires, onde tantos partiram para salvar a terra e as lutas continuas foram previstas no lugar das sombras. A nós se deleita a justiça encontrando por todo o lado uma lembrança, uma rotina com sentido, uma lástima com milagres.
Assim prevejo rever-te e acariciar-te a face, encontrar os rostos das crianças, mortas ao luar. O fundamento das guerras e o passo contínuo da marcha de poder. Direito à autonomia. A resistência dos povos, o não lugar, o encontro vagaroso com a realidade. Assim te digo adeus, cara amiga, do lugar mais distante e proximo das afáveis misérias de nós.

Berlim 03.12.2010

Ao terceiro dia entrou a realização porta a dentro. Unificou-se a consciencialização do perigo. A entrada do não lugar, cada vez mais perto. No metro ainda em Berlim, aclarou-se uma satisfação estranha. No mesmo momento que virei a cabeça para um écran publicitário, a noticia de 40 mortos em Israel-Haifa se adiantou aos meus olhos. Engoli em seco. A seguir catastrofe na Venezuela, para onde seguia até ontem, amante querido e deixado ao abandono dos seus sonhos e meus, depois da espiral de acusações descuradas e entraves contrafeitos sem resolução. Cada minuto uma passagem cerca da catástrofe. Assim vamos em frente ou para os lados em mensagens código, como se de uma missão se tratasse. Digo entra, passeia com cuidado e sonha, para um dia contares e as memórias contarem contigo.

Sunday 9 January 2011

Over Berlin 29.11.10

Há um cuidado de ti que me deixa atenta. Na relação com o fluxo diário de passageiros, avança a vida. Decorre o futuro, o alento precioso dos cuidados, um gosto particular. Um olhar. Nesta partida, mais uma premissa ao conforto invernal dos dias, espero a calorosa fronteira, os olhares desmedidos, o conforto enfrentado do não lugar. A Palestina é para mim uma interrogação. A suspeita herege, dos dias sem ninguém. Os gestos esquecidos das mulheres. O perságio longínquo da religião. Neste não lugar, encontrei a forma sem contexto, a linguagem do sofrimento, a visualização das promessas, os livros, as palavras, as formas intermináveis, que escondem a perplexidade dos outros. Olhar. Um olhar solto sobre as viagens. O paladar apagado pela fome, o gosto pelo grito. Assim perfumo os dias sem pensar. Gosto de um sonho inventado e permaneço além do primeiro pensamento que me avilta o coração. Graças aos encontros inspira-se-me de novo a alma, encalha-se o perfeito dilúvio e solta-se a lingua. Vou escrever, para não esquecer quem solta. Os prisioneiros e as mentiras, os desarmamentos interiores, o medo de uma paixão escondida. O pestanejar lento das crianças. Inculco um sábio desleixo uma sapiente memória. Os sorrisos, as fontes os desenlaces, como se o futuro fosse presente deixado para trás e se visse entregue aos desleixados prazeres de desaguar em águas fundas, como se de chuva se tratasse. Assim turbolenta. Entre paixões esquecidas e novas ilusões a luta permanece acesa. Desde a minha partida, o pensamento trai-me e acende as possibilidades inócuas do não lugar. Um livro simples escreve-se de uma só respiração. Como se o sorriso fosse perfeição e o amor se maturasse lentamente, como o vinho.
Assim te procuro, terra, gentes, sentimentos sensações fugazes perguntas que permanecerão sem respostas. O teu pensamento acende. A filha de conversa à janela, o sol apontado em contraluz. A sinceridade das palavras trémulas. A verdadeira história. A dureza da dor. A procura. A estrela. A certeza de estar certo, partilhar encontrar uma razão para ir. E assim, perder o medo e não voltar. Para contar um conto, encontrado na boca de alguém que tem lugar. Acendo o pensamento e tu, vais acompanhar a decisão.