Monday 10 January 2011

Jenin 07.12.2010

Dissera-me sem avisar. Morreu. Tudo o que faço aqui deixou de importar e mergulhei na pura abstracção. As cordas rebentam sem deixar o mínimo vestígio de vida. Assim, minha tão nobre amiga me deixou. A uma certa idade os amigos deixam de escrever. Ainda lhe recordo as palavras. Palestina resume-se a uma volta pelo campo, uma casa bem arranjada, algumas palavras sobre ocupação e a vontade de olhar para dentro, como se aqui fosse essa vontade menos nobre. Recordo uma simples memória de nós, de noite um salto nobre entre os demais. Como se assim se deixasse romper um deleite e a vida fosse precisamente passageira, que nunca nos parecesse acabar ou continuar a correr. De ti minha afável companheira dos dias te dedico uma página inteira sabendo que nem só nestes lugares se guerreia a vida e o desgosto de perder cabe a cada um, a mesma surpresa dos dias apáticos, sem volta.
Profundamente me questiono sobre o dissabor da terra, os encantos da juventude, a realidade afortunada e o porquê das injustiças. Sofro em silêncio, neste lugar de mártires, onde tantos partiram para salvar a terra e as lutas continuas foram previstas no lugar das sombras. A nós se deleita a justiça encontrando por todo o lado uma lembrança, uma rotina com sentido, uma lástima com milagres.
Assim prevejo rever-te e acariciar-te a face, encontrar os rostos das crianças, mortas ao luar. O fundamento das guerras e o passo contínuo da marcha de poder. Direito à autonomia. A resistência dos povos, o não lugar, o encontro vagaroso com a realidade. Assim te digo adeus, cara amiga, do lugar mais distante e proximo das afáveis misérias de nós.

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