Saturday 15 January 2011

Jericó 26.12.2010

No terraço solarengo dos dias longos, escrevo. Escrevo, pois mais nada além das palavras completam o sorriso dos excluídos. Deste lugar, restam as memórias de quem partiu, na esperança que se vençam as batalhas e de uma vez por todas, a guerra acabe. Deste lugar, as memórias do impossível, afagam os dias lentos e com o tempo seguram-se as bandeiras, gastando a paciência de quem espera. Gentes sem nome, numa terra deixada ao abandono, sem face, sem lugar, emprestando uma existência. Resta sonhar com um dia eterno de maldizer, solidário com o tempo. Assim estou, solidária com o povo palestino. Chorando suas lágrimas, abraçando, a sua terra, enraivecendo das injustiças e contemplando as maravilhas nossas, ao temporizar o queixume. Lenço branco enrolando o cabelo. Lágrimas rolando face a baixo. Sangue nas memórias e o tempo sem esperança, em prol das manhãs solarengas. Os dias que me restam, escrevo. Lentamente a voz presente nos meus dias os cânticos encantados de uma história ao amanhecer, a certeza de voltar e a ilusão de outro ser sem face. Ao ouvir os lamentos cantados dos dias carbonizados. Tenho pesadelos nas noites e o sono custa a chegar. Talvez este povo não tenha sonhos e o tempo seja uma lamentação, a demanda encaixotada, as escadas provisórias e uma existência assim atroz, sem muito levantar a voz de quem se conformou com a sorte. Os políticos sentam-se à mesa de quem enriqueceu com a corrupção, à volta do tempo que leva a chegar à terra.

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